domingo, 13 de março de 2016

fiz-me.

Fiz-me. Ao encostar minha cabeça na parede da tua antiga casa, várias gerações de porquês vem me perguntar o porquê. Eu mesmo que parti...
Meu amor, eu não me esqueci das horas simples e segundos complicados que vivemos. Parece até que a cidade tatuou em sua atmosfera o teu perfume cor de flor. Sinto na retina o teu sabor suave e com a pele; não minto: consigo sentir o teu gosto amargo... Quase morto, quando sussurrei àquelas palavras, àquelas promessas cruéis, dizendo que o problema era meu e não seu... E, na verdade, não tinha problema, a solução que se negava a acontecer! Eu, que defendi com unhas e dentes a unidade de ser, quis pôr todo o meu coração... amalgamar meu corpo com o teu; ponto de fusão que nunca conseguimos alcançar. Sempre a meia vida, sem calor e só na mente, o platonismo nojento alimentava como um tratador dá a ração a meu selvagem amor aprisionado sem luz e vontade. Fiz-me um com teus muros, fiz-me um com teu cheiro, fiz-me um em sorrisos e passos largos na boa vista, o cheiro que, um dia tatuado, caiu em minha pela como uma chuva de verão transborda a mim com as rimas de reticências e nessa crônicas que é viver debaixo do mesmo céu que você caminhando sem pé nem cabeça.
Só resta jogar-se no Capibaribe e rezar pra que o camurim lave a pele e te cure da lama, do suor e da tua velha falta de amor.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

florista de escombros.

Tem momento, sabe? momentos certos que acabam florescendo no arco podre daquela catedral de insegurança que se carrega no escuro do peito . Corredores completos de corações em pedaços, sangrando calado sem um pingo de som, a agonia do rejunto se afoga em glóbulos e plaquetas. invocando num, macabro, ritual aquele imenso monólito, feito de saudade e calcário riscado... todo talhado com os nomes das paixões, dos desejos... e em itálico os nossos nomes... o meu, o teu e os delas.
Vai nascendo em pequenos bordões aquele velho frevo canção que trilha os passos secos... que param em vícios e borbulhas na entrada do pulmão, fazendo meu firmamento se refazer no céu da tua boca. E do corpo que clama ao fardo de não ter a lembrança do que não aconteceu... os desdobramentos cíclicos de ser perguntar: "porque é que se doí tanto, não ter vivido aquilo que não se deveria querer viver". é o que se já tem no peito é a regra, é caminho certo no desconhecido breu de viver solto e preso ao mesmo tempo. gritar o sussurro de pedir,é jogar ao porcos as melhores perolas que você poderia ter e se já tem porque jogar aos porcos vazios e sorridentes? chafurdar na lama, meu caro... é se jogar do alto de uma montanha em um copo cheio de nada, morrer aos poucos, morrer sorrindo... sujo de lama, sangue e suor... é o destino seco daquele nostálgico arquiteto florista que ergue as flores em escombros vitorianos, criando das lagrimas os mais belos cravos, dos corpos que ali gritaram... as mais belas rosas. dos que casaram os mais tristes lírios e os que partiram fica-se o verão.
A força de ficar, é retornar o tormento e ressuscitar litro por litro a baleia que um dia se chamou óleo e queimou os  beijos molhados dos amentes proibidos.  que fez-se luz, rejunto... poesia. e é de lá que brota, que deveria brotar... das catedrais untadas, das catedrais caídas, dos escombros que floresço calado e sem cor.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Pequena morte em francês

Depois de ter relido o suprassumo do que já vai acontecer amanhã no jornal de ontem, vou viajando na  própria agonia de reinstalar os dados que já foram jogados. A sorte, que foi lançada sobre a mesa me diz a direção que não deveria nem pensar em seguir ,mas por motivos biviários de plenitude interior o primeiro passo é dado! logo para o ermo lugar... aquele mesmo lugar que não deveria ir.
 É sem pé nem cabeça o passo dado, e já preso num transe de volts platinados de medo e azar, vai-me apalpando o cheiro bom de tentativa.Pode me queimar a carne ,mas eu não vou ficar!  Parte-me o osso, mas aqui -meu caro- não vou ficar. Não se pode resistir a seus sonhos, não se deve lutar contra aquilo que te move. é como parar o ar de pensamento do primeiro pulmão que puxa respirar. É tão inalcançável parar de querer que me lembra aquele velho escafandro dormindo nas Marianas, como aquele capacete repousando no lado escuro da lua Hollywoodiana... não vou parar! até que me reste só a lembrança e o exemplo.  não é parado que se encontrar aquilo que só está a um passo de distancia, pois não é de jogo e sim da vida que estou falando, o tempo encravado nos meandros de viver é doce no final, o algoz que mostra a cara no fechar dos olhos na verdade sempre quis o abraço e a compreensão que o mais imperfeito insatisfeito jogral é igual a cabaça que acaba de cair da arvore. Precisa se  abir, precisa esvaziar e quem sabe se encher do que te cerca,  até do lado esquerdo do ombro, quem sabe?
E o passo preso envolvido pela penumbra da carne aberta, se rejeita a ir... então o osso seco, o osso molhado, o osso todo enrolado de vontades vai se erguendo e esgueirando a carne! Dando o passo já sem mim, abraçando o sem os braços o que estava a esperar no outro passo. Chegando lá se vê que o que estava lá chama aquilo está por vim... o outro passo.
De pedaço em pedaço vou montando os sonhos com restos de mim mesmo. completando os vazios com vitorias e pequenas mortes francesas.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

meio

Anda-se meio embrulhado durante uma noite de sexta bem regada, a pontada de dor e nostalgia bate lá onde dói quando chove. Eu sei. há quem ja não sinta mais, existe gente que salga a dose com as lagrimas. Existe gente que aplaude por dentro a paz e a riqueza de um refrão bem molhado, vai calejado derrubando os  guarda-chuvas, desfazendo todos os rituais e iniciando o seu. Nem por meio ou por metade,já é sábado e a chuva alisa o rosto e molha o sorriso. Confesso e replico a treplica de acusação dos céus! das nimbus desce alegria e se alegrar demais, enche-se as ruas de tristeza. Não se calça meia e nem se caminha descalço, meio caminho tira o gosto da cana, meio quilo é muito pra dois, meia vida é tempo demais pra depois.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

vento, raio e se foi.

O vento hoje me disse que não se pode dançar em dia de chuva, que o raio é o único permitido nesse ballet. mas é que na verdade as palavras que foram ditas por ele, já se perderam nos trovões surdos da tempestade. 
Estar livre do vento é como desvendar o corpo para o que se pode e não se deve fazer, é arrepiar a alma ao olhar o abismo de perto, é estrangular o ar pra ver o sol raiar, é desbravar o que já conheço só pra me embriagar em nostalgia, ter saudade do que não aconteceu e respirar nu de olhos abertos dançando como se dança e  se deve dançar, seja silencio ou bera.
Ser liberto é poder me pintar de amarelo e me melar na lama depois da chuva. Ser da tribo na nossa floresta de concreto é gritar na Imperatriz e não ligar para as gargalhadas da Boa Vista, é passear na Rua da Lama e jogar bola no Carneirinho, sujar o pé, ralar os dedos e perder a unha! Isso é desobedecer o vento, roubar a cena do raio e dançar... só dançar nos restos do amanhã que, piscou, já se foi.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

samba

Velhos acordes de violão me fazem lembrar como é despertar depois de uma noite pesada, é como se o mundo fodesse encima dos ombros em puro amor e suor, sinto tudo pesar: meu olhar, minhas costas e aquela minha velha saudade... a saudade de algo que nem sei o que foi ou o que é, se um amor ou um samba?
São essas velhas notas que me arrepiam dos pés à alma, tocando cada pedaço meu que ainda é teu, regando tudo que pensou em deixar de ser e o que será um dia.
Fico realmente sem saber o que fazer, é como se o reto se fizesse torto para que todos os caminhos me guiem direto para teu olhar, viciante olhar e  é melhor olhar de perto e vê que não estou ai pois estou aqui sem sabe como cegar a demora de chegar. Mas não esquece isso: samba bom tem que ter choro! o nosso ou o do violão. que seja ele ou quem quiser.
Samba torto, dança pouca e troca justa.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Queria sambar.

Um bom samba selvagem escapa dos bares de Sampa. Uma firula melódica que me alista e alisa o peito molhado de suor  misturado com uma colonia barata que comprei , la na farmácia de Felix - Glorioso senhor Felix, ele sempre me deseja sorte - Todo armado com verbos e adjetivos, sai pra caçar o trovejar de tua voz bem baixa. Tu, um mistério do normal me dizendo que o tempo ia piorar e o samba iria acabar. Me disse que uma banda sem musica iria chegar e não tocaria mais nada. Achei de boa, queria apenas olhar pra teus olhos e ver as verdades que escorriam e caiam no teu drink que nem me lembro o nome... só  me recordo do minusculo guarda-chuva encharcado de luxuria. Tu ri, a banda vai simbora e finalmente sinto tua voz esbravejar... mas só sinto mentiras e o que escorria na real ... era o reflexo de Cartola e um pouco de Martinho. Maldito espelho. Só queria sambar contigo, não com os mestres.